segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Céu e o Inferno do Samurai



« Existiu um samurai muito temido, arrogante e habilidoso no manejo da sua espada. Dizia-se que era invencível. Apesar de ser temido, este samurai trazia consigo um grande medo: em várias batalhas a sua vida esteve por um fio, e desde então passou a temer a morte. Preocupava-se seriamente com isso e perguntas como “céu e inferno existem?” passaram a atormentar a sua mente e durante a noite pesadelos com chamas infernais torturavam seu sono.

Um dia, antes de ir para uma nova batalha, o medo ressurgiu e ele decidiu que precisava saber urgentemente se o céu e o inferno existiam de fato, e onde se situavam.
Acreditava que se soubesse onde eles estavam, poderia evitar ir em direção ao inferno e seguir diretamente rumo ao céu. Pensou que um mestre zen lhe poderia dar essas respostas, e decidiu ir a um conhecido templo budista, no meio das montanhas.

Chegando lá, ele esmurrou o portão e aos berros exigiu a presença de Hakuin, um famoso mestre que residia no local. Calmamente, Hakuin ainda abria a porta quando o arrogante guerreiro esbravejou impaciente: 

- Quero saber se céu e inferno existem e onde eles estão! Tenho pressa, quero essa resposta AGORA!

Hakuin olhou-o de cima para baixo com um olhar de desprezo e respondeu:
- Ora, seu porco imundo, retire-se daqui!

O samurai ficou com os olhos vermelhos. O sangue fervilhava de fúria. Desembainhou rapidamente a espada e ameaçou desferir um golpe mortal contra o monge, que o interrompeu dizendo:
- Eis a porta do Inferno.

O samurai recuou, surpreendido, e já arrependido pela conduta arrogante, curvou-se sereno e humilde, e pediu perdão. Hakuin, antes de fechar a porta, disse:
- Agora, encontrou a porta do Céu. Se o céu e inferno não forem observados e sentidos dentro da sua mente, em que outro lugar então pensaria encontrá-los? »

(Conto Zen)



Aprender a cultivar, a desenvolver e a estabilizar um estado de presença testemunha, é essencial para que surja espaço. Apenas nesse espaço, vazio da imagem e identidade do "eu", escolhas conscientes poderão aflorar de forma natural, desidentificadas com estados transitórios emocionais e mentais. Liberdade para fazer algo não é a mesma coisa que assumir a responsabilidade da consequência da ação. Tal como uma porta tem duas faces, nem sempre se observa a outra, apesar de ambas as faces fazerem parte daquilo que é. Tal como, também, a mesma porta que num primeiro instante se pensa que abre para fora, poderá num instante de compreensão profunda, abrir para dentro. - A porta é a cada instante... és este instante.

Jorge Miguel Porfírio

www.raiosdomesmosol.blogspot.com

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