sexta-feira, 29 de maio de 2015

Nas Asas do Ser



Oh mente,

Descansa as tuas asas doridas pelo que procuras
Maceradas pelo fogo da procura do que para fora projectas.
Repousa o teu corpo tenso e cansado
Aterra e aninha-te no ninho do Coração
Derrete aqui
Todo o fogo glaciar e ventoso
Na água amena e espacial da qual és projeção.
Concede-te tempo num tempo de eclosão.
Eclode e reconhece no Coração aquilo que nunca pudeste deixar de Ser.
Encontra-te no abandono da tua procura
E funde-te naquilo que és.
Não pelo querer das tuas asas mas pelo ser do qual és manifestação.

Oh, mente…

Não há tempo para o sem tempo
Que contempla o tempo do teu voo sonhado.
Há tempo nos voos onde te colocas,
Algumas vezes sobre prados coloridos onde te perdes no deslumbramento
Outras tantas sob nuvens cinzentas onde te perdes no sofrimento.
O que contempla o teu voo é a origem da viagem que és.
O que observa o teu voo sente o espaço deslocado pelas tuas asas,
Sente a procura pelo teu encontro e sente o encontro da tua procura.
Não há um eu e um tu naquilo que somos.

Oh mente…

Eu sou sem ti mas tu não és sem mim.


Namastê,
Jorge M. Porfírio
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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Liberidade


Liberdade não é viver o acreditado,
mas ser aquilo que não precisa de ser acreditado.
Uma aprisiona o ser, a outra libera-o do acreditado.
Sempre será preciso alguém para haver liberdade,
ninguém é preciso para a ser.


Uma é separação na prisão, a outra é união na libertação.


Liberdade não é a procura,
Mas sempre e quando se dá a ela própria.

É sempre Idade de ser Liber.

Namastê
Jorge M. Porfírio
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terça-feira, 26 de maio de 2015

Despertar da Forma


Há duas formas de viver no presente:
temendo, evitando dor ou desejando, procurando prazer.
Ambas são memórias do passado reflectidas no presente,
Pré-ocupando o presente.
A vida é para lá da forma presente.

Haverá sempre uma forma a querer viver o presente
Enquanto não se tornar presente a ela própria.

Para ser na vida não há forma
Pois o Ser é sem forma.
Esse ser presente tu és
Antes e em qualquer forma.

Antes de ti,
Tu és presente.

Namastê
Jorge M. Porfírio
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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Na Caverna de Platão

(imagem relacionada com a Alegoria da Caverna, de Platão)

Neste grande palco onde a Vida é,
Ninguém é melhor ator que alguém.


Namastê
Jorge M. Porfírio
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segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Poder da Atenção

Uma das mais poderosas ferramentas que todo o ser humano dispõe ao longo da sua vida, é também uma das que mais passa despercebida. Paradoxalmente, é a partir dela que a vida se desenrola e através da qual demais ferramentas são procuradas e, ou não, encontradas. Falamos da Atenção. Às vezes o mais importante e óbvio é aquilo que mais tende a passar ao lado, tal a proximidade e a forma mecânica e inconsciente com que é utilizado. Imagine que segura na mão uma lanterna com o feixe de luz aceso e que procura algo no escuro. Consideremos a Atenção a lanterna... Atenção à lanterna.


Tudo aquilo que é procurado, apenas o é precisamente devido ao facto desse poder criador da realidade de cada um: isso mesmo, a Atenção. Direcionamos atenção a tudo e a todos. Tal como um leito de um rio é recipiente e ao mesmo tempo condutor de água, é através da atenção que energia de intenção é conduzida em direção a algo, em direção a um objetivo, a um efeito.
Quando os “efeitos” que a vida devolve não espelham a ideia que se tem de “felicidade“, ocorrem sensações e sentimentos de desconforto, de infelicidade. É oportuno nessas ocasiões analisar de uma forma mais abrangente e profunda aquilo que o momento dá a sentir. Por outras palavras, desde os efeitos, iluminar as causas.

Muitas vezes a atenção brota de um estado reativo, mecânico, emocional. Tende-se a colocar a atenção na procura, no que faz falta, naquilo que não se tem mas que gostaria de se ter, na ausência, na carência. Nesse contexto, a atenção nasce desde uma base de carência, falta de algo, projeção de responsabilidade, colocando "fora" a felicidade. Isto causa infelicidade e gera desejo. Transfere-se poder/atenção para o exterior ao invés de, com ele, iluminar, observar, respeitar, compreender, perdoar, aceitar, amar, integrar, expandir e nutrir o interior. Quando a atenção se redireciona para o centro de si mesma, encontram-se pérolas ao longo do caminho que somatizam a totalidade de um ser completo por ele próprio. Com essas pérolas um Colar de Gratidão é gerado, desenvolvendo naturalmente uma atitude de Gratidão para com a Vida.

É diferente viver o momento tendo como base a carência (medo/apego) ou vivê-lo tendo como base a Gratidão (amor/desapego). Os comprimentos de onda são diferentes, e a vida devolve não aquilo que se quer, mas a soma de tudo aquilo que antecede o “querer“. Visível e/ou invisível, consciente e/ou inconsciente, iluminado e/ou por iluminar. O simples facto de “querer” implica falta de algo, carência, incompletude, insegurança, medo. Desta forma vive-se assente numa plataforma, ainda que inconsciente, de medo e de luta na vida. E como é interpretado aquilo que a vida faz chegar? Precisamente como mais do mesmo: luta, resistência, pois foi precisamente desde esse ponto que a atenção foi colocada, limitando assim o canal pelo qual a vida circula. Daí ser dito que por vezes a vida dá o necessário para que uma revelação interior possa acontecer e não aquilo que é desejado.

Por outro lado, quando se vive desde um ponto de gratidão pelo momento que se vive, agradecendo e vibrando por aquilo que se tem e se vive ao invés de desejar aquilo que não se tem, a vibração interna muda, expande. Desde esse núcleo tão interior como intrínseco a cada um, todas as suas demais dimensões que brotam desde esse ponto são abarcadas, equilibradas e integradas. O campo de coerência vibracional individual é mais alargado, integrador e sincronizado e dessa forma ressoa com a vida. E a vida encarregar-se-á de devolver experiências no mesmo tipo vibracional de onda, tal como se de um eco se tratasse.

Você não é apenas uma estação de rádio e ouvinte. É energia em interação com energia. Energia em interação com ela própria, energia a reconhecer-se e a integrar-se consigo mesma. A energia não está apenas dentro de si como também fora de si. Para ela, dentro e fora não existe, pois são conceitos que apenas existem quando a atenção está identificada com a mente dual.

Entregue-se e renda-se a essa energia que já é. Banhe-se e respire nela. Irá, pela sua própria experiência, sentir mais clareza, mais espaço. Se não está contente com o eco que recebe da vida, talvez seja momento de colocar a sua atenção em si próprio, observando de uma forma imparcial, neutra, isenta de qualquer tipo de julgamento, iluminando aspectos que possam estar há já algum tempo a pedir a sua presença, a luz da sua lanterna/atenção.

A energia flui para aquilo que a sua atenção está a ser no momento. O exterior é sempre espelho do interior.

Namastê,
Jorge M. Porfírio
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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Porque sofro?


Por detrás de todas as crenças, todas as emoções e sentimentos, de todo o passado, você é o que nunca deixou de ser. Abandone todas as imagens que tem acerca de si… Deixe tudo por uns instantes... O que fica? Você é pura Consciência. É aquilo que a conduziu, desde que nasceu, até este preciso momento. Este instante. O corpo entretanto cresceu, mas em si há algo profundo que se mantém, um tesouro que a acompanha ao longo do por vezes sinuoso caminho da vida. Algo se mantém, inalterável.

De alguma forma, o facto de a atenção ser colocada ao longo da vida no material, naquilo que está “fora”, no mundo dos fenómenos onde tudo e todos está de passagem, fez cristalizar a ilusão de ter que se “construir e agarrar uma vida”, criando uma identificação a uma imagem de separação e luta, de medo. A vida por si só é transitória. A cada estação do ano sucede outra que por sua vez antecede uma outra. A dor na vida é inevitável, tal como para haver dia tem que haver noite, para haver prazer tem que haver dor. É da fricção dos opostos que nasce a luz. A dor pode ser vivida como um convite de introspeção para o sentido último da vida em si. Porém, quando surge resistência à Vida e consequente não aceitação perante aquilo que ela dá a vivenciar como dor, surge resistência ao que acontece, à mudança, à renovação da vida, expondo o apego à segurança ilusória do passado. Gera-se assim o sofrimento que se instala e se mantém como um hóspede indesejado. E mantém-se não porque seja desejado, mas sim porque a pessoa acredita que é esse sofrimento. Há sofrimento porque há apego. Libertemo-nos do apego, e libertamo-nos daquilo que acreditamos que nos limita. Podemos acreditar que são os outros a causa dos nossos limites, felicidade ou infelicidade, quando no fundo somos nós próprios que nos limitamos, dividimos e condicionamos sempre que colocamos fora de nós próprios a causa do estado de ser individual, seja ele qual for.

Não é a dor que derruba, mas a forma como se aceita ou não a experiência da dor. Se houver resistência, tensão, surge o sofrimento. Que, por si apenas, é uma chamada de atenção para que, revertendo aquilo que a situação dá a sentir para o interior, se possa encontrar um ponto de equilíbrio, de abertura, de rendição da imagem do eu ilusório para um eu mais pleno, vendo para além da "pessoa". Na base, sofremos quando há uma profunda identificação da consciência com a crença “eu sou este corpo”. Nesse ponto a expressão da consciência encontra-se de certa forma limitada, apegada à crença dessa identificação e sujeita a toda a limitação e condicionantes que ela impõe, de forma mais ou menos consciente.

Reconheça e entenda que não é apenas um corpo a viver a vida… é Vida a ser e a respirar num corpo. Para alguns esta observação e reconhecimento é mais fácil ser aceite e integrada do que para outros, pois cada um é um mundo com estradas e formas de chegar ao mesmo destino diferentes, dependendo do seu grau de entendimento e maturação individual. O nível de resistência a esta “desconstrução”, reflete o grau de apego à matéria e o quão dependente cada um acredita que se encontra do exterior. Há a escolha. A ajuda por vezes conquista-se dentro, e depois aparece fora. Nos dias que correm há cada vez mais pessoas que despertam para essa escolha. Escute a sua escolha e observe à sua volta, não está sozinha neste processo. Respire.

Quando a mente se permite banhar no leito do Coração, ocorre a rendição da pessoa (personalidade, imagem construída desde a mente) à sua essência. Ao longo desse processo de “deixar de ser para ser” poderão fazer-se sentir “membranas” de resistência (mentais, emocionais). Com paciência e compreensão e uma genuína entrega e humildade, as mesmas membranas dissolvem-se uma por uma, integrando-se também elas em pura consciência. O buscador, aquele que caminha em direção a, passa através delas, integrando partes de si e, naturalmente, aproxima-se cada vez mais do seu ponto de origem. 

Nesse ponto também o "buscador" desaparece, pois chegou ao Agora, ao ponto de onde nunca saiu. 

Namastê
Jorge M. Porfírio
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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Espelho, espelho meu...


Já lhe aconteceu viver uma situação num determinado momento do dia, e disse “Oh não…. Outra vez isto?”. A realidade percebida depende da forma como cada um se encontra recetivo e disponível a esse instante. Não é que a experiência seja igual à anterior. Está-se sim a repetir e a fazer sentir uma emoção do passado através de mecanismos de interpretação mental, que criam a ilusão de se estar a repetir a situação. E porquê? Porque a Vida é inteligente, e sabe que o aluno não foi capaz de retirar o sumo da experiência da situação do passado. E então, a forma repete-se uma e outra vez, até que finalmente o aluno “observa” o sumo e bebe a aprendizagem. “Ah! Era isto…”.

Numa das minhas últimas palestras falava-se deste tema. Uma participante mencionou que no simples facto de apontarmos o dedo indicador, ao mesmo tempo na mesma mão três outros dedos apontam para nós próprios, como se uma inteligência profunda dissesse: “Trás isso para dentro e observa em ti o que a situação te mostra”. Foi muito profundo e interessante. Poderá fazê-lo agora. Aponte para fora o dedo indicador e observe a forma como outros três dedos apontam para si ao mesmo tempo. Poderá eventualmente observar uma sensação do tipo “tremor de terra” a aflorar.

Quando nos vemos ao espelho e queremos alterar o que vemos, não esperamos que seja o reflexo a mudar, mas sim, devolvemos para nós próprios a tarefa de fazer algo nesse sentido. A realidade é um reflexo. Acredita-se ver fora o que é acreditado dentro. É mais confortável transferir responsabilidade de mudar algo para o exterior, apontando fora culpas e causas de efeitos que sentimos dentro. É mais conveniente para a preservação da imagem que temos de nós próprios, pois assim essa ideia de quem somos permanece “segura”, no seu pedestal, revestindo o papel de vítima. Porém, essa imagem é frágil na sua aparente solidez. Ao mínimo solavanco, se a vida toca num ponto crítico, faz estremecer toda a estrutura individual, dando origem a reações oriundas de um estado de ser dividido, compartimentado e estancado no seu interior. Lembre-se que sempre que reagimos estamos a “atacar” e o ataque pressupõe defesa. Observe que reação defensiva é efeito, emoção de medo a causa. Observe o movimento das emoções, a forma transitória como vêm e vão. Aprenda a não se agarrar a elas, a não se identificar com elas.

Aprendamos a estar presentes, a explorar o próprio interior, para que se possa observar onde e quando “reagimos”. Se em vez de reação houver espaço para resposta, não estaremos a viver o presente distorcendo-o com imagens guardadas do passado.

É tempo de se libertar do passado e viver plenamente o presente.
Porque você merece!

Namastê
M.
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quarta-feira, 13 de maio de 2015

Atemporal



“Já não era sem tempo”...
Já foi tempo.
Já era tempo.
Já, era tempo.
Já, é agora.
Agora é sem tempo.
Já, é sem tempo…
Já é sem tempo.
Já foste…
Já voltaste…

Já és.

Ninguém é sem tempo neste tempo.


Namastê
M.
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Céu e o Inferno do Samurai



« Existiu um samurai muito temido, arrogante e habilidoso no manejo da sua espada. Dizia-se que era invencível. Apesar de ser temido, este samurai trazia consigo um grande medo: em várias batalhas a sua vida esteve por um fio, e desde então passou a temer a morte. Preocupava-se seriamente com isso e perguntas como “céu e inferno existem?” passaram a atormentar a sua mente e durante a noite pesadelos com chamas infernais torturavam seu sono.

Um dia, antes de ir para uma nova batalha, o medo ressurgiu e ele decidiu que precisava saber urgentemente se o céu e o inferno existiam de fato, e onde se situavam.
Acreditava que se soubesse onde eles estavam, poderia evitar ir em direção ao inferno e seguir diretamente rumo ao céu. Pensou que um mestre zen lhe poderia dar essas respostas, e decidiu ir a um conhecido templo budista, no meio das montanhas.

Chegando lá, ele esmurrou o portão e aos berros exigiu a presença de Hakuin, um famoso mestre que residia no local. Calmamente, Hakuin ainda abria a porta quando o arrogante guerreiro esbravejou impaciente: 

- Quero saber se céu e inferno existem e onde eles estão! Tenho pressa, quero essa resposta AGORA!

Hakuin olhou-o de cima para baixo com um olhar de desprezo e respondeu:
- Ora, seu porco imundo, retire-se daqui!

O samurai ficou com os olhos vermelhos. O sangue fervilhava de fúria. Desembainhou rapidamente a espada e ameaçou desferir um golpe mortal contra o monge, que o interrompeu dizendo:
- Eis a porta do Inferno.

O samurai recuou, surpreendido, e já arrependido pela conduta arrogante, curvou-se sereno e humilde, e pediu perdão. Hakuin, antes de fechar a porta, disse:
- Agora, encontrou a porta do Céu. Se o céu e inferno não forem observados e sentidos dentro da sua mente, em que outro lugar então pensaria encontrá-los? »

(Conto Zen)



Aprender a cultivar, a desenvolver e a estabilizar um estado de presença testemunha, é essencial para que surja espaço. Apenas nesse espaço, vazio da imagem e identidade do "eu", escolhas conscientes poderão aflorar de forma natural, desidentificadas com estados transitórios emocionais e mentais. Liberdade para fazer algo não é a mesma coisa que assumir a responsabilidade da consequência da ação. Tal como uma porta tem duas faces, nem sempre se observa a outra, apesar de ambas as faces fazerem parte daquilo que é. Tal como, também, a mesma porta que num primeiro instante se pensa que abre para fora, poderá num instante de compreensão profunda, abrir para dentro. - A porta é a cada instante... és este instante.

Jorge Miguel Porfírio

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sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sinais de Vida


Por vezes a vida coloca tantos sinais à frente que facilmente desconsideramos os sinais como sinais, passando-nos despercebidos. Por vezes ficamos até confusos e atordoados. Sinais são “chamadas” para que a atenção se recoloque num sítio/estado com mais espaço, mais amplo, recetivo a um espectro de cores mais alargado para que com ele se possa interagir com o mundo. O momento tendencialmente é dirigido pelo “complicómetro” a que chamamos mente, turvando a visão profunda, dificultando ver a profundidade do simples e integrá-la depois no momento seguinte.

A Vida fala através das coisas simples. Aliás, a vida sempre fala, mas dir-se-ia que nem sempre a escutamos parecendo até que estamos de costas voltadas para ela. Certamente que já reparou nas chamadas “coincidências”. Por exemplo, quando pensa em alguém e momentos depois esse alguém lhe telefona ou bate à porta.

Ao conseguirmos estar suficientemente presentes e disponíveis para realmente observar a mensagem nas entrelinhas que a vida nos faz chegar, dizemos “Estou aqui!”. Trata-se de observar a linha da aparente “coincidência” e aprofundá-la. Dessa forma iremos entendê-la como sincronicidade, onde se intui que a inteligência da Vida ressoa com a vida inteligente em todos nós e desde esse ponto tudo flui de forma harmoniosa como se um rio transparente de convergência, presença, evolução e equilíbrio se tratasse.

O poeta sufi Rumi, dizia: “Para mudar a paisagem basta mudar o que sentes”. Para um reconhecimento mais vivo da vida ter lugar para acontecer, convém que tenhamos a capacidade e , acima de tudo, a vontade genuína de primeiro “esvaziar” a mente, desejando a mudança. Tal como num copo cheio de água até ao limite não cabe nem mais uma gota de água, numa mente cheia também não há lugar para nada mais. Mudar o que se sente passa por convidar a uma mudança de paradigma interior. Tantas e tantas vezes a vida nos dá sinais que, repetindo certo tipo de padrões ou rotinas, iremos estar a remar contra a maré do livre fluir da vida e da paixão que nos anima e alimenta a alma. Quando o plano A não corre como seria desejável uma e outra vez, talvez seja a Vida a dizer: “Ei! Passa para o plano B!”. Afinal, o alfabeto tem tantas letras…



Fique aqui, no momento. Presente. E entretanto, se vir um sinal para atravessar na passadeira, escute-o. Afinal, a Vida fala consigo a todo o momento… simples mente.

Namastê,Jorge M. Porfírio
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quarta-feira, 6 de maio de 2015

9 Dicas para cultivar o Presente

Encontrar espaço interior para viajar na montanha russa de cada dia é essencial nos dias que correm. Imagine um círculo. Quanto mais a atenção se encontra identificada com o seu perímetro, mais o foco se distancia do centro desse círculo. Assim, tendem-se a adotar padrões reactivos, interagindo com a vida desde uma parte distante do núcleo da vida presente em cada um.



Cultivar momentos e rotinas saudáveis de modo a substituir rotinas, padrões e tendências desestabilizadoras fortemente enraizadas, conhecidas por vasanas ou samskaras no oriente, revela-se algo extremamente importante para um desfrute mais fluído e harmonioso da vida.
Assim, experimente colocar em prática no seu dia-a-dia o seguinte:

- PRESTE ATENÇÃO À SUA RESPIRAÇÃO. Esteja onde estiver. Na fila do supermercado, a conduzir, no café, à mesa, comece por dedicar 30 segundos por exemplo a este exercício. É natural que, depois de algum tempo de prática, se sinta confortável e até estímulo natural para ir aumentando o período de tempo. Mantenha a coluna direita e as clavículas afastadas uma da outra. Sinta a forma com que a respiração fui por ela própria, sem interferências ou necessidade de “querer” respirar. Sinta a temperatura do ar que entra pelas narinas quando inspira e a temperatura mais quente do ar que sai quando expira. Enquanto respira dê-se conta do movimento subtil do peito a acontecer, desde o abdómen às clavículas. Sinta em cada expiração a forma como se vai sentindo cada vez mais relaxado, mais leve e com mais espaço, mantendo a coluna direita. A respiração é uma poderosa âncora para trazer a atenção para o momento presente.

- DESFRUTE DO SILÊNCIO. Não me refiro ao silêncio exterior, mas acima de tudo ao interior. Pode estar num sítio onde não se ouve nem uma mosca a passar mas a mente está cheia de pensamentos. Esteja atento a “ruídos” mentais, pensamentos. Sempre que observar algum pensamento apenas foque novamente a respiração com a sua atenção, libertando-se assim da mente e do seu processo de encadeamento mental. Gradualmente, irá dar-se conta que pode até estar no meio de uma multidão e no seu interior tudo está calmo e em paz, tal como no centro de um furacão.

- REFEIÇÃO CONSCIENTE. Durante uma refeição, permita-se usufruir dessa dádiva e momento sagrado em silêncio. Este exercício torna-se ainda mais desafiante para quem costuma comer em família, pois é costume aproveitarem-se esses momentos para se colocar a conversa em dia após um dia de trabalho e de escola dos filhos. Porém esse momento é mágico para uma comunhão interior profunda. Dialogue com os membros que partilham a mesa antecipadamente, falando deste exercício. Estabeleçam, por exemplo, reservar no final da refeição 5 ou 10 minutos para conversar o que seja necessário ser conversado no âmbito familiar. Irá constatar que este simples facto irá tornar ainda mais produtivo e enriquecedor a comunicação e o diálogo. Na refeição, antes de iniciar, comece por fazer uma respiração profunda e consciente, entrando em contacto com o momento. Durante a refeição, permita-se estar presente em cada garfada que leva à boca. Sinta todos os sabores. Dê-se conta do processo da mastigação a acontecer, do movimento da sua boca. Observe a tendência para a necessidade de ter de falar. Observe as suas emoções. Regresse com a sua atenção as vezes que forem necessárias para o que está a fazer. Mantenha a mente “limpa”, vazia de pensamentos, mantendo o foco no que está a fazer acontecer nesse instante. Estando mais presente, irá também escutar a real necessidade de alimento do seu corpo, e irá saber, sentindo, a quantidade adequada de comida necessária para o seu corpo.

- RELATIVIZE TUDO. Inclusivamente a si mesmo. Permita-se vivenciar todo o tipo de emoções, sem necessidade de as esconder ou recalcar de si mesmo. Mantenha simplesmente a atenção na consciência de si próprio, no observador que observa a emoção, o pensamento, aquilo que a experiência dá a sentir, naquilo que se passa ao redor. Dessa forma irá cultivar uma consciência cada vez maior e mais sustentada de si, sem se identificar com emoções que possam surgir. Vivenciando a vida, porém sem ser “arrastado” por aquilo que dá a sentir.

- QUESTIONE-SE. Pergunte-se a si próprio várias vezes ao dia e em diversos tipos de contextos perguntas como: “Quem sou eu, realmente?”. Observe a possibilidade da mente rotular este tipo de perguntas como “crises existenciais”. Regresse ao propósito de escutar e cultivar o seu centro, e não dar ouvidos à periferia da mente e dos seus hábitos. Na realidade, esta pergunta tem o papel potencial de Shiva, no oriente o poder da desconstrução, abertura e renovação, para que assim haja uma desidentificação da mente, apontando para o centro do seu círculo e consequente expansão cardíaca e integração com a mente.

- ATENÇÃO À ATENÇÃO. Lembre-se que a atenção é uma das mais poderosas ferramentas do ser humano. Seja o que for para o qual direcione a sua atenção, esteja ou não consciente, irá estar a dar força e a alimentar o que sente. Deixe que a vida aconteça por ela própria. Estamos todos aqui apenas de passagem… Aprenda a libertar o passado, a libertar o futuro, a libertar-se da mente. Viva o presente no presente. Apenas cultive a sua atenção desde o seu centro, o seu núcleo, o seu agora. Desde esse ponto, sinta-se profundamente livre para ser aquilo que nunca deixou de ser, apesar do aparente passar do tempo. Ser simples…Mente.

- PERMITA-SE DIZER “NÃO”. À medida que for estando cada vez mais em contacto consigo próprio, é natural que aquilo que antes fazia sentido para si, ao qual atribuía importância e ao mesmo tempo lhe dava poder, agora observa que deixou de ter o mesmo tipo de significado para si. Deixou de se identificar com certo tipo de pensamentos, rotinas, condutas, conversas, ambientes, pessoas… Quando existe coerência entre o centro do seu círculo - o coração inteligente e emocional,  e a extremidade do mesmo círculo – mente/personalidade, dizer “não” equivale a dizer “SIM” à vida e ao alinhamento sagrado em cada um com o fluxo cósmico da Vida. Deixe que a vida leve o que já não fizer sentido no presente para que assim a vida lhe traga o que faça mais sentido para si no presente. Renove-se.

- SEJA JARDINEIRO. Tal como uma engrenagem que está habituada a funcionar apenas num sentido e se deseja que funcione noutro sentido, é muito importante fazer atividades que façam acontecer e embalar esse novo sentido. Imagine um jardim abandonado, no qual cresceram ervas daninhas em total liberdade, sem controlo nem disciplina, sem jardineiro que cuidasse do mesmo. Entretanto as mesmas ervas daninhas encobriram flores multicoloridas, que foram ficando encobertas. Coloque a atenção nas flores. Deixe as outras tal como estão, não as combata, não disperse a sua energia e atenção. Apenas regue as flores. Alimente, cuide e mime o seu centro. Inscreva-se em atividades como Yoga, Tai Chi, meditação, passeie pela natureza, leia livros de desenvolvimento pessoal, pinte, escreva, etc. Tudo isso irá ajudar para que aos poucos as suas flores cresçam. Quando der por si o jardim que ontem estava repleto de ervas daninhas hoje estará cheio de vida, espaço e cor, integrando também as ervas daninhas como um elixir para um jardim com mais vida.


- Por último... PRATIQUE A GRATIDÃO. A cada despertar, a cada experiência, a cada sorriso, a cada lágrima. Reconheça a pérola de sabedoria e aprendizagem de cada morango que a vida lhe traga, seja ele amargo ou doce. Pratique o desapego, material ou emocional, sem colocar de lado a vivência do morango. Tudo se transforma. Diga apenas “Obrigado”. Agradecer à Vida trás mais vida à sua vida.


Namastê,
M.
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